terça-feira, 17 de abril de 2007

Copo meio cheio, meio vazio ou assim assim ?

3 artigos no mesmo jornal (*), no mesmo dia, sobre o mesmo assunto. 3 "colorações" diferentes:
1 - "o desempenho mais forte da última década" ;
2 - "ao nível mais baixo dos últimos 20 anos" ;
3 - "o país a revelar dificuldades em enfrentar a entrada no mercado mundial".

Ora vejamos :

1
Sector exportador português - Prestação em 2006 surpreendeu pela positiva
A evolução das exportações portuguesas em 2006 surpreendeu tudo e todos. Nem mesmo as expectativas mais optimistas do Governo atingiram o nível que, no final, se veio a verificar ser o verdadeiro. De acordo com o INE, as exportações de bens e serviços conseguidas pelas empresas nacionais cresceram 8,8 por cento em termos reais. Foi o desempenho mais forte da última década, superando mesmo o registado em 1998, quando a Expo-98 ajudou principalmente através da subida das vendas de serviços de turismo. O resultado segue-se a dois anos bastante negativos para o sector exportador português, um facto que leva os economistas a colocar dúvidas sobre a sustentabilidade do resultado. É que existem ainda poucos sinais de ganhos de competitividade internacional, quer por via da contenção dos custos quer por via do aumento da produtividade. S.A.
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2
As exportações portuguesas de mercadorias continuaram, em 2006, a perder quota de mercado mundial, e ficaram, deste modo, ao nível mais baixo dos últimos 20 anos, atestam as estatísticas publicadas no final da semana passada pela Organização Mundial de Comércio (OMC). A China, por seu turno, aproxima-se mais dos líderes.
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3
Exportações perderam quota em 2006 (Sérgio Aníbal)
Durante o ano passado, as vendas de bens para o estrangeiro registaram um crescimento elevado. Mas não o suficiente para acompanhar a explosão verificada a nível mundial
As exportações portuguesas de mercadorias continuaram, em 2006, a perder quota de mercado mundial, e ficaram, deste modo, ao nível mais baixo dos últimos 20 anos, atestam as estatísticas publicadas no final da semana passada pela Organização Mundial de Comércio (OMC). Os primeiros dados disponibilizados por esta organização para o ano de 2006 colocam o peso da economia portuguesa nas exportações mundiais em 0,359 por cento, um valor que é ligeiramente inferior ao de 2005 (0,364 por cento). Foi o terceiro ano consecutivo de quebra deste indicador e que colocou a quota nacional no valor mais baixo desde 1986.Apesar de o ano passado ter ficado marcado por um desempenho muito forte do sector exportador português, tal não foi suficiente para acompanhar totalmente a explosão das trocas comerciais que se continuaram a verificar em todo o globo. De acordo com os números da OMC, as exportações portuguesas de bens (para os serviços ainda não há dados disponíveis) cresceram em 2006 a uma taxa de 13,4 por cento em termos nominais - uma das maiores das últimas décadas. O problema é que as exportações totais realizadas no globo aumentaram durante o ano passado a uma taxa superior a 15 por cento, mantendo o ritmo elevado que se tem registado nos últimos anos.Aliás, a perda de importância relativa das exportações de mercadorias portuguesas no comércio internacional foi, em 2006, um fenómeno que teve paralelo em quase todas as economias consideradas mais desenvolvidas. Dos Estados Unidos à Alemanha, passando pela vizinha Espanha, os países mais ricos do mundo perderam quota de mercado, dando espaço a outros actores, principalmente os provenientes do continente asiático (ver texto ao lado). Para Portugal, fica a consolação de, neste cenário, se ter registado, durante o ano passado, uma perda de quota substancialmente mais baixa do que em anos anteriores.Ao longo da história económica da segunda metade do século XX e do início do século XXI, Portugal registou duas grandes fases de acréscimo da sua presença nas trocas comerciais mundiais. A primeira ocorreu entre 1961 e 1973, período durante o qual a quota de mercado passou de 0,24 por cento para 0,31 por cento. Na origem deste resultado esteve a adesão à Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) em 1963 e a consequente entrada de várias multinacionais que aproveitaram a mão-de-obra barata portuguesa para instalar unidades de produção destinadas à exportação.Entre 1981 e 1992, a quota voltou a disparar, atingindo o seu máximo nos 0,49 por cento. A adesão à União Europeia e as políticas de abertura do país à economia mundial explicam este resultado. Desde esse momento, no entanto, a tendência tem sido de descida da quota, com o país a revelar dificuldades em enfrentar a entrada no mercado mundial de vários países que concorrem directamente em indústrias trabalho intensivas.
(*) in Público 17-04-2007

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