Entrevista em exclusivo

Entrevista, em exclusivo, ao candidato à câmara de Lisboa, o Marquês de Pombal :

- Qual o seu projecto para Lisboa ?
- Enterrar os mortos e cuidar do vivos.
- Que acha do aeroporto na Ota ?
- Um disparate ! Quem teve essa ideia merecia a sorte dos Távoras.
- Que acha das obras do metropolitano de Lisboa, no Terreiro do Paço ?
- Como sabe, em menos tempo do que essas obras já duram eu reconstrui toda a baixa da cidade. E olhe que no recente congresso da WTTC o seu presidente executivo questionou : "Qual é o nome daquela linda praça que tem uma estátua no meio, que fica ao pé do rio e rodeada de edifícios amarelos? Aquele é um lugar fantástico!".
- E o túnel com o seu nome ?
- O meu nome ? Mas porque raio tem o meu nome ? Há alguma semelhança entre a "baixa pombalina" e o "túnel do marquês" ? Mereciam era um processo por difamação do meu nome !
- Quantos assessores contrataria caso fôsse eleito ?
- Olhe, sabe, acho que a melhor "assessoria" é a obra feita.
- Como pensa resolver o problema dos transportes em Lisboa ?
- Estimulava o mercado de arrendamento de modo a que cada pessoa morasse ao lado do seu emprego. E instituia uma rede de transporte de caleches, transversal, horizontal e vertical, que cobrisse sem discriminação todas as áreas da cidade.
- E o problema das finanças camarárias ?
- Muito simples ! Baixava os impostos para atrair investidores, demarcava a "região dos vinhos de Lisboa" e isentava-as do imposto de exportação.
- E para Portugal ?
- Como sabe tudo o que fiz foi no sentido de racionalizar o estado e de Portugal superar atrasos vários na sua economia. Repare que actualmente não há qualquer doutrina política. O actual primeiro ministro centrou a sua campanha no "Rumo", como se soubesse como melhorar o estado do país. Porém afigura-se-me que está tudo a piorar e não há qualquer "rumo" à vista, nem luz ao fundo do túnel : os sistemas informáticos colapsam, o SIMPLEX torna-se COMPLIQUEX, o desemprego aumenta, a inflação aumenta, a carga fiscal aumenta, o poder de compra diminui, a insatisfação geral aumenta. E, mais grave, o atraso relativamente aos outros paises europeus aumenta.
Ora, isso não pode continuar ! Portugal é um país com mais de dez séculos de história. Não é concebível que Portugal dentro de poucos anos seja ultrapassado, nas estatísticas internacionais, por países recém criados como a Estónia, Letónia ou a Lituânia.
- E na esfera da Educação ?
- Acho que Portugal precisa de uma urgente reforma no sistema educativo. Repare que agora há pessoas que usam títulos que não existem, como o de "engenheiria", e, pior que isso, o Governo até pretende abrir agora os lugares das carreiras mais altas da função pública a pessoas sem habilitações literárias correspondentes a tão nobre e exigente missão. Que preparação podem ter tais pessoas para resolver os complexos problemas da governação ? Até os próprios deputados assumem a sua patriótica missão nos intervalos do exercício de outras funções mais bem remuneradas. Que defesa do interesse comum se pode esperar de tais representantes eleitos ?
- E quanto à Justiça ?
- Também aí haveria uma reforma urgente a fazer. Não se compreende que quando alguém põe um processo em tribunal não se faça a mínima ideia das probabilidades de o seu caso ter êxito, tais as contradições entre as sentenças judiciais produzidas. Repare que recentemente alguém foi preso por raptar outrém mas depois o tribunal libertou o raptor para cuidar do raptado. Sem jurisprudência coerente e compatível não pode haver Estado de Direito que resista. Portanto, ou se põe ordem nisso ou ... re-instituia os pelourinhos. Acabem-se com os autos de fé, seja na praça pública, seja nos jornais ou nas televisões. Proibam-se os embargamentos de obras por dá cá aquela palha. E acabe-se com a prescrição anual de milhares de processos.
- E os poderes das polícias ?
-Não é admissível que a polícia entre em casa de alguém sem mandato judicial competente, alguém que a essa hora está ausente, a receber uma justa homenagem internacional, e entretanto vasculhar o quarto dos filhos à procura de um cão. Tal como não é admissível que a polícia anuncie em cada dia nacionalidades diferentes de presumíveis suspeitos de um crime. E nem imagina a quantidade de gravações que existem das minhas conversas ao telemóvel. A polícia tem que merecer a confiança e o respeito dos cidadãos, respeitando a liberdade e as diferenças de opiniões, na estrita legalidade dos seus poderes.
- Na Saúde também tem projectos ?
- Lisboa, como capital que é, tem que ter serviços-modelo. Na eficácia e na eficiência. Mas também na qualidade dos serviços que presta e na respectiva boa gestão financeira. Ora como posso governar os serviços da cidade se o Governo central a toda a hora interfere nos serviços locais, tanto na saúde como na educação, etc ? Há que autonomizar o que é do Governo central do que é do Governo camarário. "A César o que é de César" !
- Como vê os seus adversários na corrida à câmara de Lisboa ?
- Não me preocupa tal tema. Como sabe são todos terceiras, para não dizer décimas, escolhas. Mas uma coisa é certa: se há alguém que tenha um projecto para Lisboa, esse alguém sou eu e só eu !