quinta-feira, 10 de maio de 2007

Ota: o maior disparate da História das obras públicas

Só em custos directos, a Ota custa cerca de 4000 milhões de euros a mais do que um aeroporto definitivo na Margem Sul
Num debate recente na televisão, ouvimos um dos consultores da NAER (empresa do Novo Aeroporto) dizer que, quando a Ota saturar, o mais lógico será reconfigurar o hub nacional. Mas o que significa isso? Não havendo capacidade suficiente na Ota, os aviões serão redireccionados para Porto e Faro, o que considerou positivo para não estimular a macrocefalia de Lisboa. Mas os passageiros não podem ser redireccionados à força e irão apanhar aviões no local onde minimizem os custos totais e o tempo de deslocação para o aeroporto. E qual será a cidade mais perto de Lisboa onde poderão apanhar o avião? Provavelmente será Badajoz. Ou seja, pretende-se combater a macrocefalia de Lisboa promovendo o desenvolvimento económico de Espanha e o empobrecimento de Portugal. Mas não é exactamente para evitar que Portugal perca competitividade em relação a Espanha que se considerou absolutamente necessário avançar imediatamente para a construção da Ota, antes da saturação da Portela? Então porque se quer evitar agora aquilo que se quer deixar acontecer daqui a poucas décadas? Segundo o Governo, o aeroporto na Ota custará 3700 milhões de euros. Mas, tendo em conta a natureza dos solos e dos trabalhos a executar, o potencial para derrapagens financeiras é altíssimo, muito maior do que em locais planos na Margem Sul. Na prática, o custo do aeroporto na Ota dificilmente será inferior a 5000 milhões de euros. Estimativas para um aeroporto na Margem Sul apontam para valores muito inferiores, cerca de 1500 a 2000 milhões de euros, pois é uma zona plana. Mesmo com derrapagens, provavelmente não ultrapassaria 2500 milhões de euros. Outro custo de que se fala pouco são os acessos. Se o aeroporto for na Ota, como a Linha do Norte não teria capacidade para aguentar simultaneamente os comboios que serviriam a Ota e o TGV, seria necessário construir uma nova linha para o TGV até Lisboa. Seriam cerca de 45km, dos quais 37km em túnel ou viaduto, a um custo de cerca de 1500 milhões de euros. Ou seja, os custos directos da Ota serão próximos dos 6500 milhões de euros. Caso o aeroporto seja na Margem Sul, a situação é diferente: os comboios de ligação Lisboa-aeroporto poderão aproveitar a ponte e a linha que de qualquer forma terão de ser construídos para o TGV, ou seja, com custos adicionais quase nulos. E o custo da saída do TGV para norte pode ser muitíssimo reduzido com uma das seguintes alternativas a estudar e que não serviriam a Ota: (i) uma linha na Margem Sul a partir do aeroporto, barata por ser numa zona plana e pouco ocupada, ou (i) utilizando a Linha do Norte, quadruplicada e algaleada até Vila Franca de Xira. Nestas condições, conclui-se que só em custos directos a Ota, um aeroporto provisório para 13 anos segundo a NAV, custa cerca de 4000 milhões de euros a mais do que um aeroporto definitivo na Margem Sul. Como é que um país que poupa recursos fechando maternidades e serviços de urgência pode desperdiçar tanto dinheiro? Recorde-se que os brutais custos da Ota irão ser pagos em taxas de aeroporto, que encarecerão as viagens, isolando Portugal da Europa e do mundo. Haverá menos investimento e menos emprego e por isso piores condições de vida para todos os portugueses e não apenas para os que viajam de avião. E tudo isto justificado com base em quê? Na necessidade de proteger a riqueza ambiental da península de Setúbal. Por que razão este argumento é válido para não construir aeroportos e não é por exemplo para fechar a fábrica da Ford-Wokswagen, a auto-estrada A2, etc. Por que é que os danos para o ambiente são maus se forem causados por um aeroporto e por outras causas não são?
Prof. do Dept. de Eng. Civil do Instituto Superior Técnico

(artigo de Mário Lopes, in Publico)

1 comentário:

Carlos Medina Ribeiro disse...

Aqui deixo algumas dicas soltas, sem qualquer preocupação de ordem:
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A opção por fazer um novo aeroporto internacional (se, quando e onde) é, em toda a parte do mundo, uma decisão 100% política. Decidir porque é que se gasta dinheiro numa coisa e não noutra; ou porque é que se vai dar preferência ao desenvolvimento de uma região e não de outra - é política pura e dura, e tem pouco a ver com o facto de o terreno ser mais plano ou mais acidentado.
É mesmo assim, e é para decidir essas coisas que há políticos profissionais (no Governo e na Oposição) a quem pagamos.
Claro que isso não pode bloquear o direito que os contribuintes têm de serem informados sobre algumas opções - e é aí que o Governo se tem "espalhado" ao comprido.

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Este assunto está a deixar de ser uma discussão política (lógica e natural, pelo que atrás se disse) para se transformar numa discussão partidária - quando um partido passa a defender na Oposição o oposto do que defendia no Governo.

A "coisa" está a assumir aspectos de casmurrice e de guerra tonta, do género Benfica-Sporting.
Num assunto como este, isso não pode ser, e espera-se dos políticos um pouco mais de elevação e clareza (de intenções e processos).

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Os que querem o aeroporto na Ota, dizem que há interesses a puxar por outra localização. Os que querem o aeroporto noutra localização, dizem que há interesses a puxar pela Ota.
Mas é mesmo assim, e estranho seria se os possíveis beneficiados por ele não fizessem pressão para o seu lado!
Se isso até sucede com a localização de uma paragem de autocarro - quanto mais com a de um aeroporto internacional!

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Os custos não me preocupam muito, pois o que são 3,5 mil milhões comparados com os 16 ou 17 de fuga ao fisco (números oficiais)?
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Por que razão Mário Lino, só depois de MUITO pressionado é que disponibilizou os estudos na Internet? E como é que se explica que, de vez em quando, se venha a descobrir que foram omitidos estudos que não lhe interessavam?
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E quanto ao número de passageiros? Quando nos dizem que para os dois TGV vai haver não-sei-quantos milhões de utilizadores (que os justificam), fico com a ideia que eles não são descontados nas contas dos futuros voos para Madrid e Porto. Mas também reconheço que isso não é grave, pois já me enganaram com coisas muito piores.
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Conheço pessoalmente o Professor Galopim de Carvalho, e custa-me a engolir que menosprezem as opiniões dele, especialmente comparando com a valorização dada aos jovens da Quercus - que Mário Lino até convidou para almoçar.
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Etc., etc.
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Mas a explicação para todas essas dúvidas e tropelias é muito simples:
Tratando-se - queiramos ou não - de um decisão política, os "estudos" até podem vir DEPOIS, pois "só interessam os que interessam", como sucede com os pareceres que os governos pedem aos juristas, e de que só aproveitam os que "confirmam o que, antes, já foi decidido"...